Quando não quero mais ser eu, faço uma tatuagem. Mudo o cabelo, dou um "up" no emprego, troco de amigos (faço novas amizades), mudo tudo. No fim acabo sobrando de frente
pro espelho e sou eu de novo, um pouco mais colorida, um pouco mais
solitária, bem menos humana e sociável. Eu me volto pras palavras e
venero seus encantos, como se por me descreverem pudessem me bastar.
Palavra não faz carinho, menina, palavra não dá colo. É de abraço que eu
preciso quando não há mais letra, tatuagem, tinta, papel, caneta,
poesia. Quando não tem mais rima, é de corpo e conforto que eu preciso.
O
tempo, superestimado, não muda nada. Só faz confundir realidade e
passado num borrão sem cor. Eu vivo de acreditar na próxima semana,
minhas esperanças estão no próximo mês. Quando me oferecem um próximo
ano e contam as horas e os segundos pra que ele chegue, eu só quero me
cobrir até os olhos e pedir arrego do mundo. Não me faça encarar toda a
responsabilidade de um novo tempo, não posso admitir que cheguei ao fim
do prazo sem cumprir com meus planos.
Quero
todas as fantasias de outrora. Quero a pureza de acreditar numa nova
vida. A leveza de esperar um mundo novo no segundo em que a noite vira dia. Tudo novo, tudo limpo, tudo pronto pra ser diferente. Ar fresco,
um alívio ou certa angústia, é tempo de ser mais eu. É tempo de me
esquecer, de me perder, tempo de ter mais tempo.
Se
num dia desses eu encontrar o que eu procuro, nesses caminhos tão
avessos, talvez eu não precise das palavras. E então serei eu, de frente
pro espelho, sem medo de ser quem me olha de volta.
Adaptado do texto de Verônica H.
Gostei! É uma melancolia elegante. Bjo!
ResponderExcluirObrigada! :)
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