sábado, 9 de junho de 2012

"Acho que fiz tudo do jeito melhor, meio torto, talvez, mas tenho tentado da maneira mais bonita que sei."


"Podia ser só amizade, paixão, carinho,
admiração, respeito, ternura, tesão.
Com tantos sentimentos arrumados
cuidadosamente na prateleira de cima,
tinha de ser justo amor, meu Deus?"
( Caio Fernando Abreu )

Podia. Podia ser só amizade sim. Não seria de se espantar. Podia ser só aquele carinho de amigo, aquela coisa da confidência... sempre tive muitos amigos. Aliás, conto nos dedos as amigas que tive. Podia ser só mais um amigo, como tantos outros. Só mais um para rir das piadas, pra desabafar, pra ficar conversando de bobeira... como amigos. É. Podia ser só amizade.

Podia. Podia ser só paixão sim. Dessas que vem e vão, como as ondas no mar. Dessas que vem, arrebatam, enlouquecem e cessam, como a ressaca no mar. Dessas que envolvem, despertam e perdem toda a sua voluptuosidade em cavernas escuras. Paixão fulminante, passageira, instântanea. É. Podia ser só paixão.

Podia. Podia ser só carinho. Aquele carinho alongado, aquela vontade de colocar no colo e deixar ninar. Um carinho quase maternal, paternal. Carinho doce, calmo. É. Podia ser só carinho.

Podia. Podia ser só admiração. Admirar a sua beleza, as suas virtudes, o seu jeito. Aquela admiração que vem de dentro, do toque, da palavra, da voz. Admiração por você ser quem você é, e só. É. Podia ser só admiração.

Podia. Podia ser só respeito. Respeito por bem ou por mal. Respeito pela convivência, pela pessoa. Respeito que não implica em medo, mas em presença de espírito. É. Podia ser só respeito mesmo.

Podia. Podia ser só ternura. Ternura mansinha, como voz de mãe cantando para dormir, como cafuné para descansar, como massagem para relaxar. Ternura leve, solta, arisca. Ternura por si só. É. Podia ser só ternura mesmo.

Podia. Podia ser só tesão. Só pele, sem sentimento, sem nada mais. Impulsivo, focado, desprendido, automático. Apenas o toque, o jeito, o cheiro, o gosto. Seco, superficial, agudo. É. Podia ser só tesão mesmo.

E eu dei de arrumar todos esses sentimentos cuidadosamente na prateleira de cima. Arrumei e não deixei acumular poeira. Fui arrumando, limpando, mantendo, deixando... eu dei de arrumar sim. Agora, estou diante da prateleira. Olho para toda a minha arrumação e penso no trabalhão que deu para organizá-los  assim e só uma coisa me vem em mente: Tinha de ser justo amor, meu Deus? E deixo Caio Fernando Abreu por mim, mais uma vez:

"Porque quando fecho os olhos, é você quem eu vejo;
aos lados, em cima, embaixo, por fora e por dentro de mim.
Dilacerando felicidades de mentira,
desconstruindo tudo o que planejei,
Abrindo todas as janelas para um mundo deserto.
É você quem sorri, morde o lábio, fala grosso, conta histórias,
me tira do sério, faz ares de palhaço, pinta segredos,
ilumina o corredor por onde passo todos os dias.
É agora que quero dividir maçãs, achar o fim do arco-íris,
pisar sobre estrelas e acordar serena.
É para já que preciso contar as descobertas, alisar seu peito,
preparar uma massa, sentir seus cílios.".

Tinha que ser amor sim porque não poderia ser outra coisa. Mas eu já mandei uma faxineira vir tirar tudo de cima da prateleira. Afinal, preciso organizá-la melhor, dando as necessárias prioridades e ordens das coisas.

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