terça-feira, 10 de abril de 2012

Ninatriz...

Beatriz era uma fada madrinha que passava o dia inteiro cuidando de todo mundo, e todo mundo gritava para ser cuidado pela Beatriz. Tinha princesa que se achava feia, tinha príncipe que não sabia de matemática, tinha rei nervoso de tanto ouvir reclamação da rainha, tinha caçador de dragões com medo de escuro... tinha de tudo! E a Beatriz dizia de mil modos diferentes que a princesa era linda, até a beleza raiar, ensinava matemática mil vezes para o príncipe entender, levava o rei para passear longe do castelo até ele se acalmar, contava histórias para o caçador de dragões até ele adormecer... e o telefone celular da Beatriz não parava de tocar. Todo mundo queria falar com ela ao mesmo tempo, e a fada colocava todo mundo no colo.  Um de cada vez, claro! Ah, mas ela tinha o colo mais largo do que o mar. O seu abraço era mais apertado que de urso-polar. Sua voz era mais suave que música de concha. Seus olhos eram mais doces que chuvisco. Seu riso era mais delicioso que recreio demorado. Todos adoravam a Beatriz porque ela deixava todo mundo feliz. Mas quem será que cuidava da fada, quando ela tinha medo de ficar sozinha? Quem dizia que ela era linda, quando achava que estava engordando, ou acordava toda descabelada, com olheiras e cara amassada? Quem conversava com a Beatriz quando ela estava infeliz? Afinal, quem botava a fada madrinha no colo? Ninguém, ninguém e ninguém. E ela sonhava com esse colo. Sonhava com alguém que também se preocupasse com ela. Que a protegesse de tudo. Que a ninasse com histórias, que abraçasse mais apertado do que todos os ursos da terra, mas ninguém aparecia. Quer dizer, até apareciam uns bonitões... é verdade, Beatriz gostava muito de namorar. Mas mesmo apaixonados, todos os namorados acabavam no seu colo. Ela cuidava deles como cuidava de todo mundo, mas nenhum deles cuidava dela. Bem, pelo menos nenhum cuidava do jeito que ela sonhava. E isso a deixava com uma tristeza que não passava. Mesmo quando ria de alguma coisa...



O que ninguém percebe é que apesar de Beatriz ser uma "fada madrinha" para todo mundo, dar conselhos, sustentar o problema alheio, ser firme, segura...  ela não é uma fortaleza, e tem seus momentos de fraqueza, como qualquer um. Também é ser humano e  precisa ser cuidada, ser ouvida, ser acolhida. Me identifico com esta personagem pelo fato de meu lado amigo, na maioria das vezes, sobressair ao meu lado mulher. Mulher no mais pormenor sentido da palavra, com sua feminilidade aflorada, desejo de se sentir desejada, protegida, acalentada. E igualmente a Bia (já me sinto íntima dela que me permito chamá-la assim), coloco até aqueles com quem em relaciono ("amorosamente" falando) no colo. Eu me deixo ser Nina, e os ponho para ninar... E a Marina, nesse jeito maternal e amigável de abarcá-los, fica descoberta e desprotegida. E mais uma vez a deriva... almejando alguém que possa afilhá-la também.


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