Amor Líquido...
"A súbita abundância e a evidente disponibilidade das 'experiências
amorosas' podem alimentar (e de fato alimentam) a convicção de que amar
(apaixonar-se, instigar o amor) é uma habilidade que se pode adquirir, e
que o domínio dessa habilidade aumenta com a prática e a assiduidade do
exercício. Pode-se até acreditar (e frequentemente se acredita) que as
habilidades do 'fazer amor' tendem a crescer
com o acúmulo de experiências; que o próximo amor será uma experiência
ainda mais estimulante do que a que estamos vivendo atualmente, embora
não tão emocionante ou excitante quanto a que virá depois.
Essa é,
contudo, outra ilusão... O conhecimento que se amplia juntamente com a
série de eventos amorosos é o conhecimento do 'amor' como episódiso
intensos, curtos e impactantes, desencadeados pela consciência a priori
de sua fragilidade e curta duração. (...) É tentador afirmar que o
efeito dessa aparente 'aquisição de habilidades' tende a ser o
desaprendizado do amor- uma 'exercitada incapacidade' para amar".
"Pode-se aprender a
desempenhar uma atividade em que haja um conjunto de regras invariáveis
correspondendo a um cenário estável e monotanamente repetitivo que
favoreça o aprendizado, a memorização e a manutenção dessa simulação.
Num ambiente instável, fixar e adquirir
hábitos não são apenas contraproducentes, mas podem mostrar-se fatais em
sua consequência. (...) Se essa distinção não se sustenta, o
aprendizado (entendido como a aquisição de hábitos úteis) está fora de
questão. Os que insistem em orientar suas ações de acordo com
procedentes assumem riscos suicidas e não favorecem a eliminação dos
problemas".
(AMOR LÍQUIDO: A Fragilidade dos Laços Humanos- Zygmunt Bauman)
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